Bibliothèque bleue: um antigo empreendimento litertario!


A Bibliothèque bleue foi uma forma inicial de literatura de colportagem que surgiu na França no início do século XVII. Essas publicações, muitas vezes de qualidade inferior e pequeno formato, eram vendidas por vendedores ambulantes e acessíveis às classes populares. A principal característica dessas obras era sua capa de papel azul acinzentado, o que deu origem ao nome "livros azuis" (livres bleus).
Princípios
A criação e disseminação da Bibliothèque bleue foi uma atividade extremamente lucrativa para os impressores. No final do século XIX, estima-se que havia cerca de 150 impressores desse tipo de literatura, além das quatro grandes dinastias de impressores em Troyes, Rouen, Caen e Limoges. Essas famílias de impressores, como os Oudot, foram pioneiras na criação da Bibliothèque bleue e lucraram rapidamente com essa atividade.
A Bibliothèque bleue introduziu uma nova fórmula editorial, lançada pelos irmãos Oudot, em Troyes, em 1602. As obras eram simples, com má qualidade de impressão e de pequeno formato, mas acessíveis ao público por meio dos colportores, que as difundiram por diversas regiões urbanas e rurais da França.
Impacto Cultural e Difusão
Embora de origem urbana, essas publicações foram amplamente popularizadas e chegaram a várias partes da França. Muitos historiadores, como Roger Chartier, acreditam que essas obras eram uma das principais fontes de cultura popular, especialmente entre as classes menos instruídas, que muitas vezes participavam de leituras coletivas, já que muitos não sabiam ler. Essas obras eram tanto consumidas pelas massas quanto por um público mais misto, e permaneceram populares por quase dois séculos.
Ao mesmo tempo, o conceito de literatura popular de colportagem também floresceu em outros países, como o Volksbuch na Alemanha e o chapbook na Inglaterra, fenômenos paralelos à Bibliothèque bleue.
Histórico
As primeiras produções da Bibliothèque bleue datam do início do século XVII, com a família Oudot em Troyes sendo pioneira no formato. Uma de suas obras mais antigas foi "Ogier le Danois". Com o passar dos anos, outras famílias, como os Garnier, também começaram a publicar esses livros.
Essas obras se tornaram amplamente populares ao longo do século XVIII, com edições de livros sobre uma vasta gama de temas: romances de cavalaria, contos, manuais práticos, livros de cozinha, e até predições astrológicas. As publicações eram vendidas por toda a França, especialmente em áreas rurais, onde os colportores desempenhavam um papel crucial na distribuição dos livros.
Conteúdo e Análise
Os livros da Bibliothèque bleue incluíam uma grande variedade de temas, desde literatura religiosa, como vidas de santos, até romances medievais e manuais de instrução prática. Embora os textos fossem muitas vezes simplificados, eles proporcionavam uma forma de educação acessível para as classes populares, oferecendo informações sobre como consertar objetos, cultivar a terra ou aprender habilidades técnicas.
A principal característica desses livros era sua simplicidade. Os textos eram organizados de maneira clara, com capítulos e parágrafos curtos, facilitando a leitura para aqueles com pouca prática na leitura. Essa abordagem também indica a percepção dos editores sobre seu público: pessoas com pouco ou nenhum acesso a livros, muitas vezes em áreas rurais afastadas.
Censura e Declínio
Com o sucesso crescente da Bibliothèque bleue, as autoridades literárias e religiosas começaram a se preocupar com seu conteúdo, que muitas vezes era visto como vulgar ou imoral. A partir de 1701, uma série de proibições foi introduzida, visando controlar a reimpressão de livros sem autorização oficial. Houve um endurecimento das regras, e algumas sanções severas, como a pena de morte para o colportagem de livros proibidos, chegaram a ser estabelecidas, embora raramente aplicadas.
Ao longo do tempo, a concorrência de novos formatos, como os romances-feuilletons, levou à diminuição da popularidade da Bibliothèque bleue. O aumento da censura e a crescente presença da imprensa moderna acabaram por contribuir para o declínio desse movimento literário.
Embora muitas vezes desprezada pela elite letrada, a Bibliothèque bleue desempenhou um papel importante na disseminação da cultura popular na França dos séculos XVII ao XIX. Com suas edições baratas e acessíveis, essas obras ajudaram a educar e entreter as massas, ao mesmo tempo que introduziam uma forma de literatura que misturava ensinamentos morais com histórias de aventura e tradição popular. Apesar de seu declínio, a Bibliothèque bleue deixou uma marca significativa na história da literatura e na cultura popular francesa.
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